Coletivo
E-mail: coletivoprincesinhadefavela@outlook.com
Telefone Público: (85) 98677-2720
Descrição
O Coletivo Princesinha de Favela se inspira nas histórias das rainhas guerreiras afro-brasileiras. Nos inspiramos nos brilhos dos anéis de cobre dourados que a Rainha Tereza de Cabinda trazia em seu corpo. Sua altivez encontrou a crueldade dos barões de engenho de Pernambuco, em 1816. O destemor de Aqualtune, rainha guerreira do Congo, que liderou uma revolução em seu país e no Brasil, protagonizou revoltas. Desse ventre, veio a geração de Zumbi e o início da história de Palmares: o ecossistema da nossa resistência. A perspicácia de Zacimba Gaba, princesa da nação africana de Cabinda, em Angola. Portava-se com valentia, sabedoria e muita resiliência.Coexistem em nosso tempo, as rainhas do asfalto, do morro, do terreiro. O público do coletivo são nossas vizinhas, mães, tias, avós, amigas. Diversos lares brasileiros são sustentados por essas mulheres. São elas as provedoras da economia e do afeto dessas famílias monoparentais, as que seguram no lombo o alimento dos filhos, a renda familiar e as dores do mundo. Buscamos, por meio de ações aliadas a promoção da estética da negritude e periférica, causar impacto emocional e simbólico, ao mesmo tempo em que esperamos assegurar e enaltecer esse reconhecimento negado historicamente. Somos conduzidas pelo desejo em propiciar uma estética política e afirmativa que conjuga beleza e negritude dessas mulheres e que, por meio desse engajamento, contesta a ordem vigente e celebra um estilo que discorre sobre poder, estigma e identidade.
O bairro Jangurussu, zona de origem e atuação do Coletivo, entre os bairros de Fortaleza se destaca no processo desse ranking de fragilidades. Os 60 mil habitantes desta comunidade sofrem com as precariedades de serviços básicos. Nessa extensão urbana, o bairro ocupa a posição de 111º no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) . Se destaca em números absolutos de homicídios entre a população e em déficit de infraestrutura domiciliar. Não surpreende que o impacto da pandemia da Covid-19 cause efeito doloroso nos bairros com mais desvantagem socioeconômica. Em Fortaleza, os casos de Covid-19 se concentraram nas SER II e VI, sendo que é na última que estão as maiores ocorrências de fatalidade da doença. As razões dessas taxas, tais como as vulnerabilidades já citadas, estão relacionadas a uma crítica estrutura hidrossanitária e a condição socioeconômica, o que, mais uma vez, atesta o abismo social inerente a cidade. È nesse contexto que nasce a ideia de pensar um projeto de mulheres periféricas que estão inseridas neste espaço e, consequentemente, sentindo os desdobramentos da ausência de política pública que oferte serviços básicos.
Nos últimos anos, o conceito de gênero e hiperviolência ganhou um destaque maior. Em Fortaleza, houve um aumento de quase 90% das mulheres na relação de homicídios. Em 2020, a morte de meninas “decretadas” pelo crime saltou de 2% para 14%. O Ceará assume mais uma vez uma evidência infeliz. Se destaca como estado mais inseguro para ser uma mulher de periferia. O coletivo tem suas ações direcionadas a essas mulheres que estão no pódio da violência doméstica e que o risco de ser vítima de uma agressão chega a ser quatro vezes maior do que uma mulher branca de classe social superior. No âmbito privado, as mulheres são reféns de uma série de circunstâncias estruturais e educacionais. No que diz respeito a intervenção do Estado, ascende, cada vez mais, uma necropolítica que indica os corpos das mulheres que têm valor à vida e à morte.
Tendo a comunhão e parceria entre as favelas como princípio do Coletivo Princesinha de Favela, entendendo que no Estado do Ceará vivenciamos um contexto atual de guerras de facções, em que corpos pretos e periféricos são marcados para a morte por simples gestos corporais, como fazer símbolos com as mãos, que são identificados pelo Estado e pelas facções como criminosos. Essa dinâmica faz com que moradores de uma determinada comunidade não possam se movimentar entre outras comunicades de forma natural. Manter esses bairros interligados através de coletivos e organizações que impulsionem arte, cultura, conhecimento e lazer, mostra como precisamos viver em comunidade. Estar junto e trocar conhecimento de vida é essencial e natural de quem se criou entre ruas estreitas e casas que compartilham os mesmos quintais. Nos articulamos nos bairros, cidades e Estados do Brasil fazendo parcerias com organizações que discutem questões essenciais para nossa existência, como a criação de meios que ofereçam oportunidades de bem viver para o povo negro e periférico que assim como nós.